Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, quer monopolizar eleitorado conservador no Brasil e não busca debater a economia e nem desenvolvimento do país. Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tentou apagar o incêndio de sua fala preconceituosa e separatista em entrevista ao jornal O Estadão, no fim de semana. Usou as redes sociais, ontem (06), para acionar o extintor.

Em um tom “não é bem assim”, adocicado, afirmou que sua defesa pela união dos estados do Sul e Sudeste não significa estimular o enfrentamento com os estados do Norte e Nordeste. Queria fazer ‘um emenda’. Mas não conseguiu.

Isso porque deixou claro seu pensamento quando fez a analogia das vaquinhas. Disse que “as vaquinhas que produzem pouco” (Norte-Nordeste) não podem ser mais beneficiadas do que as “vaquinhas que produzem mais” (Sul-Sudeste).

Recentemente, em outro momento, na reunião do Consórcio Sul-Sudeste, ele já tinha escancarado o preconceito estrutural. Disse que só os estados das duas regiões são capazes alavancar o desenvolvimento do país.

Falas focam em 2026

O problema, entretanto, é que as declarações infelizes tem um alvo: as eleições 2026. Inspirado pela extrema direita americana, o governador de Minas Gerais resolveu adotar uma estratégia de comunicação dos trolls – os provocadores da internet – buscando ganhar visibilidade e ocupar lugar deixado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Foi justamente assim, usando o ‘truque manjado’, que políticos como Bolsonaro e Trump chegaram ao poder.

Entenda o truque

O ‘truque’ funciona mais ou menos assim: Você perguntava para as pessoas qual era o atrativo de Bolsonaro [ou Trump] e a conversa era sempre: ‘Ah, ele fala o que todo mundo pensa’. Aí você apontava para alguma coisa que ambos tinham dito [aqui no Brasil ou lá nos EUA], mostrava a gravidade das palavras, mas recebia como resposta dos adeptos ou admiradores o seguinte argumento: ‘Ah não, mas ele está só brincando'”.

Ou seja, é o personagem que ao mesmo tempo fala o que todo mundo está pensando e está só brincando, a figura do troll, justamente, que está sempre nesse jogo dúbio, entre o que é brincadeira e o que é sério.

Frequência do absurdo 

Zema tem feito falas absurdas e com frequência maior com o foco de superar o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tentando justamente buscar o bolsonarismo. Por esse motivo, o governador mineiro está sempre introduzindo temas que são ‘polêmicos’ — que na verdade são comentários racistas, homofóbicos ou xenofóbicos etc. —, e a reação [de indignação] provocada atrai atenção para ele, lhe dá visibilidade.

Método antigo

A tática não é nova, pois antes mesmo da consagração da chamada alt-right americana, Bolsonaro já adotava o método em sua carreira como parlamentar, baseado em uma compreensão instintiva que ele tinha de sua posição política na época, totalmente periférica — ele era um político completamente sem importância, cuja única visibilidade vinha disso.

Tarcísio usa estratégia

Além de Zema, o próprio Tarcísio passou a adotar postura semelhante.  Basta analisar sua fala na entrevista após a ação policial no Guarujá, quando o governador de São Paulo afirmou que estava satisfeito com o desempenho da polícia. Ou seja, o governador do maior estado do país se sentiu ‘satisfeito’ ao analisar a operação que terminou com 10 ou 11 mortos. A declaração, portanto, é claramente uma estratégia bolsonarista.

Cabos eleitorais do PT

A tática manjada vem sendo criticada por vários políticos, inclusive, da direita. Durante entrevista ao UOL News, o ex-presidente do Novo, João Amoêdo, afirmou que a disputa de falas absurdas entre Zema e Tarcísio, faz com que ambos acabam, de certa forma, se tornando cabos eleitorais do PT. Para ele, diante de um novo cenário de polarização política é “muito fácil” para o PT se colocar como uma opção contra os herdeiros do bolsonarismo.

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