O Brasil chega ao 2º turno das eleições presidenciais de 2022, num cenário bastante acirrado, em que duas plataformas significativamente diferentes são submetidas ao escrutínio dos brasileiros. A dicotomia entre as campanhas de Lula e de Bolsonaro é inegável. A deste último é movida por um sentimento antipetista que, não raramente, flerta ofensiva e livremente com movimentos contrários à democracia e às instituições, tentando descredibilizar a ciência e perseguindo quem tenta se expressar ou pensar de forma minimamente distinta.
A campanha do ex-presidente Lula, por sua vez, é a contraposição contra tudo aquilo que o bolsonarismo representa. Não por outro motivo, não é exagero dizer que essas eleições vão bem além de uma mera escolha entre dois nomes ou dois partidos, é muito maior que Lula ou Bolsonaro. Pode parecer trivial ou uma nova obviedade, mas o que está em jogo é o futuro do país.
Tanto é verdade que, enquanto a campanha à reeleição de Bolsonaro centrou-se em sua bolha da extrema-direita, a campanha do ex-presidente Lula conseguiu reunir apoios que anos atrás seriam inimagináveis no mesmo palanque: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro da Saúde José Serra, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, Tasso Jereissati (ex-presidente do PSDB), João Amoêdo (um dos fundadores do Partido Novo), Miguel Reale Jr. (autor do impeachment de Dilma Rousseff), além dos candidatos Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT).
Aliás, o fato de Lula ter escolhido como vice em sua chapa o ex-tucano Geraldo Alckmin, com quem disputou uma acalorada eleição em 2006, já era um grande indicativo de que a campanha do ex-presidente teria cacife para reunir representantes dos mais variados setores da sociedade, em especial dos moderados e que não concordam com o modo como Bolsonaro conduz o país.
Como bem lembra Steven Levitsky, professor em Harvard e coautor do livro “Como as Democracias Morrem”, em momentos de ameaça ou claro desapreço à democracia e às regras não escritas do jogo democrático, deve haver uma ampla aliança para assegurar-se a sobrevivência do modelo democrático. Isso ocorreu, por exemplo, na última eleição nos Estados Unidos, ocasião em que inúmeros republicanos, num gesto de maturidade, decidiram apoiar a candidatura de Joe Biden.
Qualquer que seja o candidato eleito, creio ser inequívoco que o Brasil precisa de menos proselitismo político e de mais ações robustas para a recuperação econômica, bem como, para evitar que o abismo social continue se expandindo, haja vista que, lamentavelmente, nos últimos anos, o país retornou ao mapa da fome.
Ledo engano é acreditar que economia e social são inimigos ou independentes. Sem uma economia forte torna-se mais dificultoso implementar-se as urgentes políticas sociais e, noutro lado, de nada adiantaria os números objetivos do PIB crescerem enquanto as pessoas vivem na incerteza de se terão o que comer durante o dia.
Nunca se discutiu tanto sobre política quanto nos últimos anos, entretanto, o debate precisa ser amadurecido para tornar-se propositivo e não se cingir ao mero bate-boca. O clima de ódio e inimizade que permeia o país não pode perdurar, não faz bem ao Brasil, tampouco aos brasileiros.
Todavia, a missão de diminuir as tensões será hercúlea e, se havia dúvidas da gravidade do momento atual, o ataque armado de Roberto Jefferson contra a Polícia Federal foi prova clarividente do perigo que caminha junto ao armamentismo e ao fanatismo político-ideológico.
Ao presidente da República que conduzirá o país pelos próximos anos caberá, ainda, retirar o Brasil do isolamento no contexto internacional, como forma de atrair investimentos e gerar oportunidades às pessoas. Para tanto, o presidente não pode ser um exemplo de animosidade e de intrigas, pelo contrário, a missão será unir o Brasil em vez de dividi-lo ainda mais. (Com informações de Caio Neri, em A Gazeta)
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