Prefeitura de Belágua alertou ‘erros’ em lançamentos, mas reportagem do Fantástico ignorou esse detalhe — Foto: Reprodução/TV Globo

A sã exegese nos ensina que antes de fazermos qualquer julgamento sobre determinado assunto (texto, noticiário, artigo, prosa, matéria, comentário em rádio e tv, etc.), devemos antes de tudo observar o contexto em que determinada notícia foi veiculada ou comentada.

Às vezes, alguns leitores, ouvintes ou telespectadores, tem o costume de absorver trechos isolados de falas de uma determinada abordagem, e fazer ao seu bel prazer uma exegese totalmente errônea, fora de um contexto, de modo a se adequar aos seus próprios propósitos.

Dá mais “ibope”, tirar uma frase do contexto, e de maneira sensacionalista, colocar imediatamente em redes sociais ou grupos de aplicativos de troca de mensagens, sem o devido cuidado de fazer uma análise mais aprofundada, e até mesmo, verificar em que circunstâncias, determinados temas foram abordados.

Foi exatamente isso que aconteceu neste domingo (23), em reportagem exibida pelo Fantástico, da TV Globo, mostrando supostos tratamentos fantasmas que estariam desvirtuando o sistema público de saúde em quase 50 cidades do Maranhão. Um dos municípios citados foi Belágua, com 7.528 habitantes, que teria 50 mil atendimentos pós-Covid.

O problema, entretanto, é que a reportagem ignorou um ofício que já apontava possíveis inconsistências em tratamentos realizados no município belaguense. Datado de 08 de dezembro do ano passado, o comunicado ao qual o blog teve acesso, solicitava ao Ministério da Saúde a reabertura do transmissor Datasus para retransmissão da produção referentes as competências que foram informadas na matéria deste domingo.

 

Alertada pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre possível utilização de algoritmos e suspeita de suposta coordenação na alimentação de dados, Prefeitura agiu corretamente e comunicou Ministério da Saúde sobre inconsistências

A reportagem que vinha sendo produzida durante duas semanas, porém, não levou em conta o documento de cinco meses atrás apontando os possíveis dados digitados e informados erroneamente, através do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS), o que poderia caracterizar, portanto, um erro de digitação, longe de se tratar de malversação de dinheiro público.

“Em virtude de inconsistência observadas entre a FPO e produção aprovada de alguns dos procedimentos aprovados, solicitamos de V.S.ª, produção referentes as competências: 11/2022, 12/2021, 01/2022, 02/2022, 03/2022, 04/2022, 05/2022, 07/2022 e 08/2022 do SAI/SUS do Município de Belagua-MA”, diz o comunicado assinado pela então secretária de saúde.

A matéria veiculada na revista eletrônica que mistura jornalismo, denúncia, esporte, humor, dramaturgia, música e ciência, se transformou num refúgio para os canalhas, principalmente, alguns dos que militam na política belaguense ou são adversários da presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale – esposa do prefeito Hérlon Costa Lima (PSC) gerando, inclusive, um texto fora do contexto para postagens em grupos e redes sociais, visando criar um pretexto para politicagem na ‘terra dos encantos’ e em todo o estado.

Tentando polemizar a questão os ratos, baratas e escorpiões que se escondem em entulho e caixas de esgoto, resolveram pegar trecho da reportagem de 14min56s para espalhar um conteúdo fora de contexto apenas com o objetivo de criar pretexto.

A realidade, porém, é que um texto só tem sentido diante do seu contexto. Sem o contexto, tudo fica muito vago, e podemos dar a interpretação que quisermos. Assim textos sem contextos são ótimos para serem manipulados a favor de quem os dita.

Utilização de algoritmos

O próprio procurador da República Juraci Guimarães explicou à TV Globo que as investigações apontam para a possibilidade de um sistema informatizado, talvez até com a utilização de algoritmos, e suspeita de que existe uma coordenação na alimentação destes dados. Alertada pelo Parquet sobre a suspeita, a Prefeitura belaguense agiu corretamente e comunicou o Ministério da Saúde sobre inconsistências para realizar as devidas correções.

Onipresença de pacientes

A possibilidade de uma utilização de algoritmos pode ter permitindo, por exemplo, um caso de “onipresença” de um dos moradores que aparece como recordista, com 500 atendimentos. Embora o paciente tenha afirmado na reportagem que não fez nenhum procedimento, ele aparece ‘alimentando’ os dados inconsistentes de seis municípios.

Nota de esclarecimento do prefeito de Belágua, Herlon Costa

“Em face da matéria publicada no programa Fantásico neste domingo (23), esclarecemos que o município de Belágua tomou todas as providências devidas e que as apurações foram iniciadas pela própria Prefeitura, identificando os erros no lançamento de dados e comunicando diretamente ao Ministério da Saúde, desde 09/12/2022, solicitando as correções devidas dos dados. O município já adotou todas as medidas legais e está à inteira disposição das autoridades.

Belágua, 23 de abril de 2023.”

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