Primeira deputada federal indígena eleita por São Paulo, a maranhense Sonia Guajajara (PSOL-SP) é nome de consenso para assumir o Ministério dos Povos Originários a ser criado no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. O GLOBO apurou que lideranças indígenas reunidas no fim de semana em Brasília bateram o martelo em torno de sua indicação, que recebeu por sua vez apoio de nomes importantes da equipe de transição como do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e da mulher de Lula, Rosângela da Silva, a Janja. A ex-ministra Marina Silva, cotada para o Meio Ambiente, também apoia a escolha, que deve ser anunciada nos próximos dias.
Sonia chegou nesta quinta-feira ao Egito, onde participará da COP27, conferência do clima que contará com a participação das principais lideranças mundiais. Aos amigos e assessores mais próximos, Sonia tem dito que se o convite for oficializado nos próximos dias “ele será amplamente debatido com o movimento indígena”. O GLOBO apurou, no entanto, que Sônia está inclinada a aceitar o desafio.
Lula viaja para o Egito na próxima segunda-feira e já adiantou aos integrantes da equipe de transição que só cogita falar sobre o assunto depois de retornar da COP27. Durante a conferência deve se reunir com Sônia para formalizar o convite. Randolfe e Marina também devem participar do encontro.
Nesta terça-feira, uma portaria oficializou a equipe de transição do governo federal com a criação de de 31 grupos temáticos que trabalharão nos próximos dois meses, entre eles o intitulado “Povos Originários”.
Procurada pela reportagem quando conversava com o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), assim que chegou ao Egito, a deputada indígena afirmou que só vai se pronunciar depois de o convite ser formalizado.
Outros nomes como de Célia Xakriabá (PSOL-MG), Joênia Wapichana (Rede-RR), Ailton Krenak e Beto Marubo foram sondados pela equipe de transição, mas sem convite formal. O GLOBO apurou que a disputa ficou, num primeiro momento, entre Joênia e Sonia, mas que a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) levou vantagem.
– A disputa estava entre a Sonia e a Joênia. E quem tem mais chances é Sônia – diz uma fonte que acompanha os trabalhos da equipe de transição de perto.
Krenak apoiou o nome de Joênia enquanto Beto Marubo, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, disse não ter pretensões de assumir o posto nesse momento.
O nome de Sonia ganhou força por ter visibilidade e grande reconhecimento da comunidade internacional, além de ser mulher, um dos motivos que ensejaram o apoio de Janja, que é admiradora de seu trabalho e ficou muito sensibilizada quando a liderança foi perseguida pela gestão da Funai no governo Bolsonaro.
Em maio, Sonia Guajajara foi incluída na lista das 100 pessoas mais influentes da revista Time, publicada nos EUA, ao lado do cientista Túlio de Oliveira, um dos responsáveis pela identificação da variante ômicron do vírus da covid-19.
Pela primeira vez, duas mulheres indígenas foram eleitas como deputadas federais no Brasil. Sonia conquistou o marco em São Paulo com mais de 156 mil votos, enquanto Célia Xakriabá recebeu 101 mil e ganhou em Minas Gerais.
Antes delas, apenas dois indígenas haviam sido eleitos a este cargo na história do país: Mário Juruna (PDT-RJ), em 1982, e Joênia Wapichana (Rede-RR), em 2018. Agora, 186 concorrentes ao Congresso declararam ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que são indígenas, um aumento de 40% em comparação ao último pleito.
Uma das preocupações do movimento indígena é “perder” a vaga de Sonia no Congresso, caso ela seja confirmada ministra. A ideia, segundo líderes do movimento indígena, é que Sonia “deixe a pasta azeitada” no primeiro ano de governo Lula e depois volte para ocupar sua cadeira na Câmara dos Deputados. (O Globo)
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