De O Globo

Por videoconferência, governadores se reúnem e discutem clima de instabilidade política no país Foto: Sergio Andrade / Divulgação

Reunidos por videoconferência, 25 governadores discutiram, na manhã desta segunda-feira, o papel da Polícia Militar diante do clima de instabilidade política dos últimos dias. O alerta veio a partir do que ocorreu em São Paulo, quando um comandante regional da PM foi afastado pelo governador João Doria por fazer chamamentos para os atos previstos para o dia 7 de setembro, atacar o STF, o governador de SP e o presidente do Senado.

Doria comunicou aos colegas sobre o afastamento do coronel da Polícia Militar Aleksander Lacerda e disse que não se deve admitir “manifestação inadequada” e “indisciplina” dentro das polícias. O governador paulista ainda alertou sobre o risco de movimentos semelhantes de policiais se repetirem em outros estados:

— Creiam, amigos governadores, isso que está acontecendo em São Paulo pode acontecer também nos seus estados, fiquem atentos. Temos uma inteligência da Polícia Civil que indica claramente o crescimento desse movimento autoritário para criar limitações, restrições e emparadamento de governadores e prefeitos que defendem a democracia — disse Doria, durante a reunião.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), elogiou a atitude de Doria em afastar o comandante da PM e comparou o clima político de hoje com o de 1964, quando os militares implantaram uma ditadura no país.

— Esse clima que se avizinha para o 7 de Setembro não se insere na democracia. Pessoas armadas na rua é motim. Agiu muito bem o governador Doria — disse Dino.

— Temos que lembrar do precedente histórico de 64, onde também se reinava a perplexidade. Naquela época, todos os governadores sofreram, inclusive os que apoiavam o regime. Depois de 1965 não teve mais eleição para governador. Só foi restabelecida em 1982 — disse o governador maranhense.

Ibaneis Rocha afirmou que não há risco de confusão no 7 de Setembro e, ao se referir ao episódio de São Paulo, afirmou que a Polícia Militar do Distrito Federal não irá se insubordinar.

— A Polícia Militar do Distrito Federal é das melhores do país. Não teremos nenhum tipo de insubordinação. O comandante tem controle das tropas e tudo vai se dar de forma pacífica — disse Ibaneis.

Após o encontro, os integrantes do Fórum de Governadores anunciaram também que vão tentar um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e esperam ser recebidos pelo presidente. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou que houve consenso na reunião sobre a necessidade de diminuir a tensão entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal e fortalecer a democracia.

— Espero que o presidente, pelo nível que o país chegou nesse momento, com essa disputa institucional, receba os governadores. O que procuramos é o bem comum e vamos levar isso ao presidente. Dizer a ele que não tem ninguém contra ou a favor dele, mas queremos um ambiente de normalidade e discutir os reais interesses do povo — disse Ibaneis Rocha.

Na reunião, de forma presencial, compareceu, além de Ibaneis, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). Não foi entregue ao final da reunião qualquer documento ou carta com as posições dos governadores ou com críticas à atuação de Bolsonaro, que na semana passada encaminhou ao Senado pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

A ideia era publicar uma carta aberta de caráter suprapartidário, em defesa do estado de direito e do sistema eleitoral. No entanto, a proposta foi bombardeada pelos governadores bolsonaristas Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Carlos Moisés (PSL-SC), como informou o colunista Bernardo Mello Franco. Diante da resistência dos bolsonaristas, os organizadores do texto desistiram de divulgá-lo.

Os governadores, porém, anunciaram que irão encaminhar cartas aos presidentes Arthur Lira (Câmara), Rodrigo Pacheco (Senado) e Luiz Fux (Supremo Tribunal Federal), para que possam ser marcados encontros com o objetivo de diminuir a instabilidade política, além de avançar em pautas de interesse dos estados.

— Mesmo com a disparidade de posições político-partidárias entre nós, entendemos que temos condições de ajudar bastante. Vamos preparar essas cartas e também tratar de outros temas, como a reforma tributária, que, como está, irá gerar R$ 15 bilhões de prejuízo para estados e municípios. A proposta não tem nada de simplificação. É muito ruim. E por causa do Paulo Guedes — afirmou Ibaneis.

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