Eliene Pinheiro é uma das jornalistas negras que mudou a cara do jornalismo na TV

Ser mulher e ser negra no Brasil atualmente é motivo de preconceito e resistência. É enfrentar todos os dias a falta de oportunidade, de direitos igualitários e o machismo que ainda estão muito enraizados no país. Mesmo com uma pequena evolução com o passar dos séculos, as mulheres ainda sofrem bastante e muitas delas utilizam esse sofrimento para dar a volta por cima e lutar por melhorias para a classe.

Na mídia televisiva, por exemplo, a grande maioria é retratada em situação de inferioridade e em raríssimo caso em papel de destaque, seja no entretenimento ou nos telejornais. O caminho para mostrar trabalho e competência é árduo. No entanto, quando algumas delas chegam ao lugar onde muitas deveriam estar é repercutido com glória e marcado como motivo de comemoração.

Em nível nacional, temos dois grandes exemplos: a saudosa Glória Maria e Maju Coutinho, que hoje é uma das apresentadoras do Fantástico, programa de grande audiência veiculado aos domingos pela TV Globo, principal emissora do país.

No Maranhão, eu poderia destacar várias negras que contribuíram para mudar a cara do jornalismo no estado, como Regina Sousa e Vanessa Fonseca, que hoje apresenta o Bom Dia Mirante, ao lado do jornalista Clóvis Cabalau. No entanto, de todos os exemplos possíveis, destaco a jornalista Eliene Pinheiro.

Mais que “a menina mulher da pele preta” cantada por Jorge Benjor, Eliene Pinheiro é sinônimo de competência, profissionalismo, elegância e referência para muitos colegas com atuação no estado majoritariamente negro, mas que ainda é perceptível a invisibilidade dessas pessoas, principalmente na mídia.

Popular, mas sem a cara do povo

Quando olhamos para a população, o número revela a falta de representação: 56,1% dos brasileiros são negros, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na televisão brasileira, veículo escolhido por 61% dos brasileiros como principal fonte de informação, apenas 3,7% dos apresentadores são negros, conforme pesquisa do site do Vaidapé, que aborda questões de direitos humanos e violência institucional.

Assim como Regina e Vanessa, Eliene contribuiu para dar cara à comunidade negra maranhense formada por 74% da população, segundo o IBGE. Jornalista há quase 20 anos, Eliene tem uma história de vida que se confunde com a de milhares de maranhenses batalhadoras.

Eliene na cobertura da solenidade da Medalha Simão Estácio da Silveira

O início da jornada

De origem humilde, conquistou com muita luta e sacrifício uma carreira de sucesso. Começou na TV Difusora como repórter, depois foi apresentar o Jornal da Difusora, em seguida comandou o Repórter Difusora onde dividia a bancada com Ricardo Baty, formando a primeira dupla de negros a apresentar um telejornal no Maranhão.

De lá seguiu para o Bom Dia Maranhão, onde foi também a editora chefe do jornal. Nesse mesmo período apresentava na extinta rádio Difusora AM o programa Na Medida, com informações sobre a situação da cidade e do interior do estado e participação de ouvintes. Em seguida, atuou como editora chefe dos programas ‘Na Hora D’ e ‘Difusora Agora’, apresentados respectivamente pelos jornalistas Olavo Sampaio e José Raimundo Rodrigues. Depois assumiu a chefia de redação da TV.

A jornalista também trabalhou na assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (Semus) na gestão do saudoso João Castelo. Na segunda gestão do ex-presidente Astro de Ogum (PCdoB), na Câmara Municipal de São Luís e, por indicação da jornalista Itamargarethe Correa Lima, junto a agência responsável pela criação e produção das campanhas publicitárias do parlamento, Eliene passou a atuar como repórter e apresentadora das inserções do Legislativo ludovicense durante os intervalos da programação televisiva, dando nova “cara” à Câmara na TV.

A estratégia de Itamargarethe, que também é negra e foi a primeira mulher indicada ao comando da Superintendência de Comunicação da Câmara em mais de 400 anos de história, tinha um motivo: a Casa de Leis precisava ter a ‘cara do povo’ já que a cidade é formada em sua maioria por população autodeclarada negra (69,62% de pretos e pardos) e também com maior porcentagem feminina (51,18% de mulheres). A proposta deu certo e foi bastante aprovada por grande parte dos expectadores, conforme pesquisa realizada pelo órgão.

Quando Eliene aparecia na tela da TV parecia que estava com a gente no sofá da sala, se fazendo presente no horário do almoço ou do jantar. Sua presença dizia para crianças, adolescentes, jovens e adultos de todas as idades que, as principais leis que mudaram nossas vidas no âmbito da capital, passaram pela Câmara Municipal.

Eliene Pinheiro: competência, profissionalismo e elegância

Em uma nova casa

A profissional que é sinônimo de competência, talento e dedicação em tudo o que faz, encerrou seu ciclo no Palácio Pedro Neiva de Santana, após seis anos invadindo os lares ludovicenses para destacar as ações dos vereadores. Na última terça-feira (21), ela iniciou uma nova jornada atuando no Palácio Manuel Beckman, agora como coordenadora de jornalismo da TV Assembleia (canal aberto digital 9.2).

Na “Casa do Povo” maranhense, vai integrar um time feminino formado por Iracema Vale, primeira mulher presidente da história da Assembleia e Jacqueline Barros Heluy, diretora de Comunicação. O convite para compor a equipe campeã do Rangedor, entretanto, partiu de um homem: o jornalista Juracy Filho, que é o Sub-Diretor de TV e Rádio.

O titular do blog parabeniza a colega e deseja sucesso em sua nova jornada! A nossa torcida é para que ela possa seguir marcando ‘goleadas’ de competência e profissionalismo no sistema de comunicação da Assembleia Legislativa do Maranhão!

Em tempos de desinformação e pandemia, o blog do Isaías Rocha reforça o compromisso com o jornalismo maranhense, profissional e de qualidade. Nossa página produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.