No ano novo que se inicia se completam dez anos dos “novos movimentos de 2013”. Ao mesmo tempo, um novo governo também começa, com promessa de ser diferente de tudo até agora, até mesmo pela missão que tem, de reconstrução do estado de coisas que foi desmontado, no que tange à garantia de direitos. É o que aponta a articulista de A Gazeta, Verônica Bezerra, que é advogada e coordenadora de Projetos CADH e especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública.

Na opinião de Verônica Bezerra que é mestre em Direitos e Garantias Fundamentais (FGV), ao longo de uma década vivemos um período de permanente turbulência, não temos muitas respostas para as perguntas que a história já nos impõe. E principalmente como conseguimos quase exterminar a democracia. Há necessidade de um distanciamento maior para olharmos pelo retrovisor e compreender os fenômenos que atravessaram a vida de todas as pessoas.

Nesses dez anos, vivenciamos um período de permanente descrédito na política institucional, conjunturas supercomplexas, valores constitucionais relativizados, construção de narrativas jurídicas para aprisionar o maior líder político do país, a criminalização de um ato com o objetivo de tirar do poder uma presidenta, e como consequência disso tudo a ascensão da extrema-direita com a assunção de um governo que conseguiu destruir a estrutura básica que se tinha na garantia de direitos fundamentais e sociais.

São públicos e notórios os desmontes que as áreas da educação, saúde, ciência e assistência social tiveram que suportar, e que acarretaram a agudização da desigualdade social e a morte de milhares de pessoas no contexto pandêmico.

Em meio a movimentos é que surgem novas possibilidades e que se desvelam as diferenças de posturas e práticas dos protagonistas, quando comparamos os movimentos de 2013 com aqueles que culminaram no processo de redemocratização.

No anunciar do ano que se inicia, será preciso enxergar as transformações políticas, econômicas e sociais das últimas décadas, se dando conta de que os desafios para essa compreensão são maiores do que se pensavam. De certo, aqueles que se movimentaram em 2013 não imaginavam as consequências.

Ao perceber que um velho mundo sucumbiu, é preciso ter consciência de que os fantamas que o assombravam ainda estão por aqui.

Será preciso aprender que uma política de controle de gastos deverá dialogar com a garantia de direitos sociais, sem reduzir a politica a um jogo de dados viciados, deixando bem claro que os movimentos de 2013 não foram capazes de alterar a forma de atuação dos partidos políticos.

Os movimentos de 2013, que pareciam tão certos de si, talvez tenham descoberto os limites e insuficiências do sistema democrático brasileiro da forma mais perigosa que se tem, colocando em risco um país.

Outros movimentos e lideranças estão surgindo, trazendo novos ventos. Estamos vivendo o momento de exercitar o direito de tentar, sendo imprescindível dialogarmos com as novas realidades e buscarmos novas respostas para elas.

Essa década que se encerra muito ensinou, mesmo de forma dolorosa. Deixando marcas, mas descobrindo potências, podendo ser considerada uma década de transição.

Oxalá tenha ficado o aprendizado!

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