Nos dois principais hospitais públicos de São Luís, o serviço de saúde apresenta dificuldades. Passado quase três meses da data em que parte do telhado e do forro da ala de emergência do Hospital Municipal Clementino Moura (Socorrão 2), localizado na Avenida Tancredo Neves, da Cidade Operária, desabou, a reforma do prédio ainda não teria sido concluída.
Já no Djalma Marques (Socorrão 1), localizado entre as ruas Passeio e Cajazeiras, no centro da cidade, os pacientes estão acomodados nos corredores. No Socorrão 1, acompanhantes das pessoas internadas disseram faltar higienização adequada dos ambientes internos do prédio, e seria os parentes dos enfermos quem, às vezes, precisam comprar a medicação e os itens de higiene pessoal.
Sobre o Clementino Moura, um médico da rede pública de saúde da capital, que preferiu ter a identidade preservada, foi quem informou ao Jornal Pequeno sobre o telhado da ala de emergência do Socorrão 2 ter desabado no dia 18 de fevereiro, e, por conta disso, a clínica médica do hospital estaria fechada. Devido às chuvas registradas naquele mês, houve infiltração na ala do hospital, e com relatos de cupins na madeira do teto, as cargas d’águas potencializaram um problema antigo, resultando no desabamento.
O profissional de saúde disse que os pacientes tiveram que ser transferidos para outras alas do hospital e para outras unidades de assistência médica, como as Unidades Mistas dos bairros São Bernardo e Bequimão. Segundo o médico, atualmente apenas as alas de traumatologia e as salas de cirurgia estariam funcionando.
Na última sexta-feira (5), a reportagem do Jornal Pequeno esteve no hospital e verificou a situação.
Na oportunidade, o auxiliar de ambulância, que preferiu não se identificar, falou sobre o episódio do desabamento, em fevereiro. No entanto, ele contou que recentemente o espaço destinado aos casos de emergênci voltou a ser aberto e aos poucos os pacientes voltaram a ocupá-lo.
O auxiliar de ambulâncias detalhou que uma empresa terceirizada foi contratada para fazer os reparos no forro de gesso do Socorrão 2, e durante a obra de reparo os pacientes foram mantidos no ambiente. “Uma equipe veio fazer o reparo, mas não esperava que o teto caísse sobre o gesso, fazendo com que o forro desabasse. A madeira do telhado estava com cupim. No dia do reparo, havia pessoas se recuperando de processos operatórios na ala, pois, aqui ‘todo mundo’ fica misturado, inclusive, na emergência”, disse o auxiliar de ambulância, ao complementar que, atualmente, apenas as telhas do teto foram colocadas, já o forro, ainda não.
Durante o período que a reportagem do Jornal Pequeno esteve no Socorrão 2, na sexta, não foi identificado nenhum parente de pessoas internadas, que estivessem na ala de emergência. No entanto, um senhor, acompanhado de familiares, e que sofria com dores na coluna, buscou atendimento, mas, teve que voltar para casa ou procurar outro hospital, pois no Socorrão 2 não haveria médico especializado em ortopedia que pudesse atendê-lo.
DJALMA MARQUES
Enquanto a situação não é resolvida no Clementino Moura, no Hospital Djalma Marques (Socorrão 1), pelas brechas do portão de entrada, ainda na sexta, a reportagem do JP constatou pacientes jogados pelos corredores da unidade de saúde, de forma deplorável. Mesmo sem acesso à parte interna do prédio, a reportagem conversou com parentes e amigos de pacientes, que estavam do lado de fora do hospital.
Uma promotora de vendas, que tinha saído para lanchar, contou que há 20 dias acompanha sua mãe, que está internada devido a problemas nos rins. Ela contou que sua mãe ficou por três dias na maca de uma ambulância, até ser transferida para um leito. “Mas, para isso, tive que subornar o maqueiro do Hospital. Paguei o custo de R$ 10 para o maqueiro. No Socorrão 1 se paga de R$ 10 a R$ 30 para se conseguir uma maca. De outro jeito, dificilmente o paciente é transferido para um leito”, informou.
A promotora de vendas contou ainda que sua mãe chegou ao hospital em uma ambulância, e a maca que a paciente permaneceu nos primeiros dias de internação pertencia ao veículo destinado exclusivamente ao transporte de enfermos. “Ouvi falar no hospital que São Luís tem 18 ambulâncias, mas apenas oito estão circulando pela cidade, devido os pacientes que chegam nas macas dos carros permanecerem nelas, quando o equipamento deveria voltar para as ambulâncias. Tem muita gente nos corredores, sem as macas.”
FALTAM REMÉDIO E PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL
Se não bastasse a falta de espaço e leitos para acomodar os pacientes, os parentes reclamaram, ainda, da falta de medicamentos e de produtos de higiene pessoal.
“Minha mãe foi medicada porque comprei os remédios, ela precisa tomar todos os dias medicação de pressão e gastrites”, disse a promotora de vendas.
O aposentado Raimundo Nonato Teixeira, que está com a filha de 13 anos internada com dificuldades respiratórias, disse que foi orientado pela enfermeira e pela assistente social a levar ao hospital até material de higiene pessoal. “Se quisermos que nosso parente tome banho com sabonete, devemos trazer o produto”, completou.
“Meu filho Laurivan de Jesus Reis Soares, de 35 anos, está na maca, Está tendo convulsões, mas não é epilepsia. Se Deus quiser, será encaminhado para um leito em breve”, relatou a dona de casa Maria de Jesus Reis Soares, de 64 anos.
Por fim, a falta de limpeza em diversos ambientes do hospital também seria motivo de reclamação. “Os banheiros são nojentos para um hospital. Alguns lugares, como os corredores, ficam imundos”, disse um funcionário que também não quis se identificar.