Com o corre-corre da informação nos tempos tecnológicos, a interpretação textual parece estar sendo, cada vez mais, desprezada. A consequência – em muitas manchetes, sentenças e parágrafos – é a não clareza, a ambiguidade ou a confusão.
Vejamos, como exemplo, a declaração abaixo do senador Weverton Rocha (PDT), nessa quinta-feira (15), no Palácio dos Leões, após reunião entre ele, o governador Flávio Dino (PCdoB) e o vice-governador Carlos Brandão (PSDB):
“Boa conversa hoje com o governador Flávio Dino e o vice-governador Carlos Brandão. As mudanças positivas precisam continuar e no Senado estarei sempre trabalhando para apoiar o Maranhão. Nosso grupo segue firme, focado no que importa: o melhor para os maranhenses“, escreveu o pedetista para legendar uma foto onde somente ele aparece emburrado. (Em negrito, trechos da ambiguidade da mensagem do senador)
O objetivo aqui não é analisar a imagem que fala por si só, mas compreender um importante trecho da frase ambígua do senador maranhense.
Separamos a parte mais importante onde Weverton diz claramente: “no Senado estarei sempre trabalhando para apoiar o Maranhão”.
A expressão em destaque, na mensagem, pode ter dupla interpretação: ou pode ser que Weverton apoie Brandão, trabalhando para indicar o vice ou vai continuar trabalhando para disputar contra Brandão em 2022. A única certeza das declarações do senador foi que ele jogou o jogo do governador.
A dupla interpretação intencional é uma forma de evitar antecipar um rompimento por conta da disputa entre ele e o vice. A verdade é que o pedetista vai ‘continuar mesmo viabilizando’ uma candidatura ao governo do Maranhão.
Para isso, já estaria contando, inclusive, com importantes aliados em Brasília como os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Aliás, partiu de Lira a recente pressão em cima do deputado federal André Fufuca, presidente do PP no Maranhão, para que o dirigente regional da legenda pudesse antecipar um anúncio público pela pré-candidatura de Weverton no estado.
O registro fotográfico acima dispensa qualquer legenda. No entanto, faço questão de destacar que algumas das imagens que ilustram este post comprovam a ambiguidade de Weverton em declarar que vai ‘continuar trabalhando no Senado’…., mas por candidatura a governador, contrariando mais uma vez, o próprio Flávio Dino que perdeu a liderança do seu grupo desde 2020, quando foi derrotado na capital maranhense com apoio de parte dos aliados governistas.
Como diria a escritora norte-americana Ursula K. Le Guin, no livro Os Despossuídos, que lida com temas fundamentais a sua época: “Quando o inimigo te abraça com entusiasmo e teus concidadãos te rejeitam com rancor, é difícil que não te perguntes se não és, na realidade, um traidor”.