Antes de morrer, Djalma Rodrigues escreveu livro sobre trajetória no jornalismo / Foto: Fabrício Cunha

SÃO LUÍS, 22 de junho de 2024 – Expressar emoções através da escrita pode ajudar a clarear ideias, organizar a mente e reduzir o estresse. Quase como um bote salva-vidas, a prática da escrita pode ser, também, um processo terapêutico ou uma maneira de enfrentar momentos difíceis e reconhecer sentimentos. É um exercício poderoso de autoexpressão.

O jornalista Djalma Rodrigues, que nos deixou na tarde deste sábado (22), aos 66 anos, encontrou nas palavras um meio de transformar a ausência da sua mãe Benedita Rodrigues, que faleceu no dia 8 de dezembro de 1965, em São Luís.

Para ressignificar a existência da genitora a partir de memórias carinhosas em registros afetuosos, o comunicador resolveu lançar a coluna “E-mail pra Dona Bibi”, que era veiculada aos finais de semana no jornal Atos e Fatos, sendo publicada posteriormente em seu blog homônimo.

Bibi, como era carinhosamente chamada por ele, tinha 28 anos quando fez sua viagem celestial por conta de um acidente vascular cerebral (AVC), deixando o filho órfão. Todos os momentos foram gravados de forma bem marcante na memória daquele garotinho que tinha apenas 7 anos quando perdeu a mãe.

Em uma de suas cartas, Djalma conta que eram aproximadamente 11h da manhã, quando sua genitora lhe chama para que lesse o Jornal Pequeno, como fazia diariamente. Na manchete, a descrição da trágica morte do prefeito José Silva, de São José de Ribamar. O acidente de trânsito ocorreu na Forquilha. Ele se deslocava da cidade balneária para a capital, dirigindo uma Rural Willys.

A estrada, à época, de piçarra, provocava muitos desastres e o prefeito, conduzindo em alta velocidade, derrapou, fez com que o veículo perdesse o controle e colidisse numa mangueira. Sem cinto de segurança – que não existia no período –, ele foi projetado para fora do carro, bateu com a cabeça numa mangueira e teve morte imediata.

Ele conta que terminou a leitura e ela, deitada numa rede, pede que pare o restante e determina que chame o seu companheiro, Hilário Justino da Cruz, pai do saudoso jornalista Udes Cruz, com quem moravam, porque estava se sentindo muito mal. O companheiro dela estava no quintal. Djalma foi chamá-lo e percebe que a mãe já estava sentindo falta de ar.

Imediatamente Hilário sai às pressas e volta com um táxi. Ela foi levada para a Santa Casa de Misericórdia. Foi a última vez que o filho viu a mãe com vida. Em casa, ficou com sua tia Deolinda, irmã dela, ambos em estado de sobressalto. Às 17h, a notícia que mudaria o curso de sua vida para sempre:

-Bibi não resistiu. Ela faleceu!

A informação foi passada por Hilário, que, pela primeira vez, lhe viu tristonho e com um filete de lágrimas a lhe banhar o rosto. Era um homem duro, muito culto, fluente em inglês, português, matemática e muito beberrão.

Em outro trecho da coluna, Djalma contava que a saudade jamais se esvaiu durante todo esse tempo. “Só tenho a agradecer. Foi uma gigante, do alto de 1,50m em uma curta, mas marcante passagem pela Terra. Seus ensinamentos me guiaram e continuarão a me guiar pelo caminho do bem”, frisou.

Anos mais tarde, já em sua atuação como jornalista, Djalma decidiu escrever para curar as dores da saudade e lidar com seu eterno luto. As anotações feitas ao longo de sua trajetória profissional, foram transformadas em coluna semanal e viraram um livro.

Intitulado de “O Órfão e o Jornalista”, o livro não chegou a ser lançado pelo comunicador, mas a publicação é uma narrativa forte, intensa e reflexiva. Escrita como uma catarse, se revelou também uma linda história de amor. Tem tristeza e felicidade. A leitura vale porque inspira, conforta e enche a alma. Ela narra a trajetória de um órfão que usou os ensinamentos da mãe para construir uma linda história profissional marcada pela competência, companheirismo e amizade.

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